No país do futebol, nada mais natural do que políticos tirando uma casquinha do esporte para tentar se dar bem. Corintiano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva costuma fazer discursos usando explicações futebolísticas e não esconde a decepção quando algo está errado com o time. Antes de Lula, outros presidentes já se envolveram diretamente com o futebol. O general Emílio Garrastazu Médici era um dos que mais gostavam do esporte e chegou até a interferir diretamente na seleção brasileira que jogou a Copa de 1970.
Em 1970, antes do tricampeonato, Médici pediu publicamente para que o técnico e jornalista João Saldanha convocasse o artilheiro mineiro Dario. Saldanha não seguiu a orientação do ditador e ainda alfinetou:
- O presidente escala o ministério dele e eu escalo o meu time!
Após os conflitos públicos, Saldanha foi demitido. Além de “desobedecer” Médici, Saldanha também não recebia apoio do governo por ter feito parte do Partido Comunista. No comando da seleção, Zagallo convocou Dario, conquistou o tricampeonato e impulsionou a comemoração dos generais.
O hino do tri “Todos juntos, vamos pra frente Brasil. Salve a seleção!” acabou virando o tema da Arena [partido que dava sustentação política à ditadura]. Os candidatos do partido deviam usar a música e imagens da vitória brasileira nas propagandas políticas. Na década de 1970, os políticos atingiram o ápice do uso do futebol como propaganda política.
Também foi no tri que o então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (PP) presenteou os jogadores da seleção com o carro da moda. Maluf comprou 25 fuscas, a “coqueluche” da indústria automobilística da época, para os 25 jogadores da seleção.
Por causa da “comemoração”, Maluf respondeu a um processo na Justiça que pedia a devolução do dinheiro usado para comprar os carros. Em 2006, o STF (Supremo Tribunal Federal) arquivou a ação contra o ex-prefeito alegando que a Câmara dos Vereadores havia permitido a compra.
Festa ao lado do poder
Nas duas primeiras Copas conquistadas pela seleção brasileira, em 1958 e 1962, os jogadores comemoraram o título ao lado do presidente. Em 1958 o time de Pelé, Garrincha e Zagalo venceu a competição pela primeira vez e comemorou ao lado de Juscelino Kubitschek.
JK, que prometia o crescimento de “50 anos em 5”, recebeu o time no Palácio do Catete, no Rio, e comemorou o título conquistado na Suécia após os fracassos de 1950 e 1954.
Quatro anos mais tarde, em 1962, Pelé sofreu uma contusão logo no começo da Copa do Chile, e ficou de fora das outras partidas. Mas Garrincha e a base da seleção campeã de 58 trouxeram o bicampeonato para o Brasil. O time repetiu a cena e comemorou o título ao lado do presidente João Goulart, já em Brasília, numa cena que virou tradição.
Democracia
Em 1994, quando o Brasil ganhou o tetracampeonato na Copa dos Estados Unidos, os jogadores se envolveram em uma encrenca. Na volta para o Brasil, a comissão técnica entrou no país sem declarar produtos que foram comprados durante a viagem. O escândalo ficou conhecido como “voo da muamba” e dirigentes da CBF tiveram que pagar multa sobre o dinheiro do imposto.
Depois do fracasso de 1998, quando o time “apagou” na final contra a França, a seleção de 2002 chegou ao pentacampeonato na Copa Japão-Coreia. O então presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu publicamente a convocação de Romário para a seleção, mas não foi ouvido pelo técnico Luiz Felipe Scolari. Apesar da rusga, após a vitória, a seleção foi ao Planalto e a imagem de Vampeta descendo a rampa do Planalto a cambalhotas se tornou clássica.
Lula até tentou convencer Dunga a convocar os santistas Ganso e Neymar, mas não teve sucesso. Em 2006, o presidente já havia palpitado, ao questionar se o fenômeno Ronaldo não estava muito gordo para a competição. Apesar das famosas comparações entre política e futebol e do fanatismo pelo esporte, o corintiano Lula ainda não conseguiu comemorar uma Copa como presidente e emplacar suas sugestões para a convocação da seleção.
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quarta-feira, 23 de junho de 2010
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